Para o senso comum, cultura está ligada a uma concepção de hábitos que demonstram uma certa erudição. Ir ao concerto, ao teatro, às exposições de arte e ler livros de literatura. Nesse caso, a pessoa recebe o rótulo de culta, antenada, ligada aos melhor da sociedade.
Evidentemente, esses hábitos são salutares e fazem bem aos seus frequentadores. Afinal, conhecimento não ocupa espaço e nunca é demais.
Porém, para as ciências humanas, cultura não é apenas isso. Ela reflete os hábitos adquiridos pelo homem desde a mais tenra idade e que ao longo de sua vida o fazem sobreviver e conviver em sociedade.
Félix Guatari, desenvolveu uma teoria na qual ele dá três definições para cultura, a saber:
- Cultura-valor - é a cultura mais voltada para o erudito (assim como a cultura é descrita no senso comum).
- Cultura-alma coletiva - é gerada nos grupos, dando-lhes uma identidade.
- Cultura-mercadoria - são bens (ou serviços) produzidos para o consumo cultural (livros, discos, ingressos, etc.)
A cultura-valor evoca um sentido do que é culto ou inculto. Ou seja, quem frequenta determinados ambientes recebe o valor, as honras por pertencer a um meio privilegiado culturalmente.
A cultura-alma coletiva é o que identifica determinados grupos e ela normalmente é percebida por quem a vê de fora ou quando esses grupos resolvem enaltecer seus símbolos.
A cultura-mercadoria, como o próprio nome já diz, é quando a arte é concebida para entreter e suas obras tornam-se produtos prontos para o consumo.
Em todos os conceitos, não se pode esquecer que o ser humano pode não gostar de frequentar os meios eruditos (cultura-valor) e mesmo assim ter um amplo conhecimento que o torne culto tanto quanto os frequentadores mais assíduos dos teatros, concertos e museus.
Já a cultura alma-coletiva ela muda muito ao longo da vida pois uma pessoa pode pertencer a certos grupos por um tempo e deixar de fazê-lo e ir se inserindo em novos grupos, ou seja, ganhar novas identidades culturais ao longo da vida. Esse é um conceito mutante.
Por fim, a cultura-mercadoria, também chamada de cultura de massa, embora concebida enquanto produto, não pode ser reduzida só a essa visão. O processo de criação ao longo do tempo sofreu uma ressignificação e ela tem muito a ver com o mundo atual, seus sistemas e seus novos valores. Não se pode esquecer que os nossos criadores são trabalhadores e precisam ser remunerados.
Contudo, vale refletir sobre a qualidade dos "produtos culturais" pois se eles existem é porque há mercado, não é mesmo?