Por:
Profº Richard Araújo
Há poucos minutos terminou o segundo dia do Processo de
Atribuição de Aulas da rede estadual de ensino e a única palavra que retrata a
forma como foram tratados os professores e professoras é descaso.
As salas de aula fechadas, as regras absurdas impostas aos
professores e professoras de educação física, impedidos de atribuírem em suas
escolas as aulas livres do Ensino Médio Noturno e as turmas de ACD, levaram a
que um processo que poderia ser tranquilo, tenha se transformado numa
verdadeira sessão de tortura que durou mais de 12 horas e que teve como saldo a
atribuição de substituições para quase uma centena de efetivos, e quase duas
centenas de profissionais que ficaram sem aulas, se encontrando por enquanto na
situação de efetivos precários.
Confusões de toda a natureza cometidas pela DER Leste 2 e a
total falta de espaço físico para minimizar os desgaste de homens e mulheres,
que ficaram alguns sem almoço e janta, devido ao medo de se ausentarem parcialmente
do local e serem chamados para a sessão de escolha, foram apenas alguns dos
exemplos de como somos tratados pelo governo estadual, que utiliza a educação
como peça de suas mentiras eleitorais durante a eleição, mas que na vida real
não desiste de adotar medidas, que apenas servem para piorar cada vez as já
péssimas condições de trabalho na rede e que tornam o emocional dos professores
e professoras da rede cada vez mais instável, fato não considerado pelo governo
quando se utiliza da imprensa para lançar dúvidas sobre o grau e profundidade
do adoecimento da categoria.
Mas o que esperar de um
governo, que mesmo diante da visível crise que vive a educação paulista, depois
de fechadas as urnas eletrônicas, adotou como uma das suas primeiras
iniciativas o anúncio do corte de verbas da Educação de R$ 800 milhões? O que
esperar de um governo que está envolvido em diversas denúncias de corrupção no
metrô e na CPTM e que teve entre as principais fontes de arrecadação de sua
campanha as mesmas empresas que estão envolvidas nessas denúncias? O que
esperar de um governo que durante toda a campanha negou a crise hídrica que
atinge o estado e que tem levado há que bairros e cidades fiquem sem uma gota
sequer de água por dias e que há poucos dias confirmou que a situação está
grave?
Não podemos esperar nada
diferente deste governo! O governo Geraldo Alckimin cada dia mais se mostra como
um governo inimigo dos trabalhadores, do povo pobre e da educação pública, pois
seu compromisso verdadeiro é com as empresas que financiaram sua campanha, com
as montadoras que abocanharam bilhões de reais em isenções fiscais e agora
demitem em massa os metalúrgicos em todo o estado, depois de terem enviado para
fora do país, para suas matrizes, o dinheiro que deveria ter sido investido na
educação pública e na valorização dos profissionais da rede estadual de ensino.
Infelizmente, Alckimin não
está sozinho no quesito de utilizar a educação como peça de propaganda nas
eleições, enquanto na vida real só faz atacar a escola pública, pois também o
governo Dilma, apesar de todo o discurso de transforma o país numa "Pátria
Educadora", anunciou o corte de R$ 7 bilhões da educação, a área federal
que teve o maior corte de verbas, e ainda anunciou como ministro da Educação o
famigerado Cid Gomes, conhecido por afirmar, quando era governador do Ceará,
que professor não deve trabalhar por dinheiro, mas por amor.
Precisamos construir a
unidade da categoria para fazer frente aos ataques à educação feitos por
Alckmin e também pelo governo Dilma.
O primeiro passo neste
sentindo é realizarmos um grande ato no próximo dia 29 de janeiro para
denunciarmos todo o desrespeito que estamos vivendo neste processo de
atribuição de aulas, que só tende a piorar, pois as aulas são poucas porque o
governo prefere fechar milhares de salas em todo o estado (e superlotar as que
permanecem abertas) do que reduzir o número de alunos por sala para a melhorar
as condições de trabalho dos professores ou ainda impor a precarização do
trabalho do magistério a respeitar a jornada da Lei do Piso, que, se aplicada,
teria dois impactos imediatos: melhora da qualidade de vida da categoria com a
redução de nossa jornada em sala e garantia do direito ao emprego para todos
aqueles que estão sem aulas no momento.
No entanto, para alcançarmos
tais bandeiras, precisamos superar a fragmentação artificial que o governo
criou para nos atacar e demonstrarmos com nossa unidade e organização que somos
todos professores e que estamos fartos de tantos ataques e desrespeito!
Vamos seguir o exemplo dos
metalúrgicos da Volks e construir a unidade de nossa categoria para barrarmos
as demissões e derrotarmos este governo inimigo da educação.
Richard Araújo é docente da
rede estadual de São Paulo. Militante do PSTU e dirigente da oposição da Apeoesp. Sua vida é dedicada às lutas por uma escola onde haja dignidade para alunos e
professores, em que predomine um tratamento humano e condizente com as
necessidades das pessoas que lutam pra ter uma vida melhor. Seu relato versa sobre o processo de atribuição de aulas de 2015 iniciado em 21 de janeiro de 2015 e do dia 22 de janeiro, quando os professores foram constituir jornada em condições degradantes.