sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A revolta da chibata em samba:

A Baía da Guanabara localiza-se na cidade do Rio de Janeiro, nessa imagem ela é mostrada em inicio do século XX.

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a História não esqueceu
Conhecido como navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que, a exemplo do feiticeiro, gritava então

Glória aos piratas
Às mulatas, às sereias

Glória à farofa
à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história não esquecemos jamais

Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento as pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

Essa música, foi composta por João Bosco e Aldir Blanc nos anos 70 do século XX e tendo sido gravada por Elis Regina, a maior interprete da MPB na época. Intitulada O Mestre-Sala dos Mares, constitui um clássico da nossa música popular e é um samba muito agradável. Em plena ditadura militar, os compositores que viviam tempos difíceis, posto que as músicas passavam por censura prévia, resgataram na História do Brasil de incio daquele século, um episódio bastante marcante: a Revolta da Chibata. Porém, a música foi modificada em diversos trechos.


Essa imagem é atribuída aos marinheiros que participaram da Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro em 1910.

O conflito foi marcado pela revolta dos marinheiros que liderados por João Cândido (o Almirante Negro) se rebelaram contra os castigos físicos que sofriam: chibatadas.Os marinheiros eram muitas vezes recrutados para servir a Marinha do Brasil de maneira compulsória entre o final do século XIX e início do século XX. Desde a Proclamação da República, os castigos físicos haviam sido banidos das instituições federais, mas curiosamente permaneceram na Marinha. Muitos marinheiros eram filhos de ex-escravos e eram humilhados ou castigados fisicamente, como ocorria nos tempos de escravidão. 
Não concordando com essa situação e após presenciar uma agressão bastante grave a um companheiro, Marcelino Rodrigues Menezes, condenado ao castigo de 250 chibatadas, que foram aplicadas na frente da tropa. Quando os marinheiros se rebelaram, ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro - a então capital federal - historiadores apontam, que foram dois anos de planejamento até a eclosão do movimento em novembro de 1910.


João Candido - o Almirante Negro - líder da Revolta da Chibata.

O líder do movimento era um gaúcho, filho de ex-escravos que ingressou aos 13 anos na Marinha em Porto Alegre, por indicação. Em 15 anos de carreira até o episódio, teve no currículo inúmeras viagens. De instruído a instrutor, passou pela Grã-Bretanha e teve contato com marinheiros russos em momentos que viriam a anteceder a própria Revolução Russa. Era muito competente em suas funções e conseguia dialogar com oficiais. Por isso foi indicado pelos pares a liderar o movimento.

A Revolta foi sufocada pelo governo, com uma manobra estratégica, ainda no final de novembro de 1910. O governo disse que concederia anistia aos envolvidos no movimento, mas prendeu-os e os enviou a uma prisão subterrânea na Ilha das Cobras, onde poucos sobreviveram. O episódio é bastante discutido até os dias atuais, seja pela resistência ou pela própria desobediência a uma força militar.

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