terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Rapsódia dos Pequenos Burgueses - uma boa impressão:


Cartaz oficial da peça que está em cartaz até 14/12 em S. Paulo. 

Primeiramente, é preciso explicar o que vem a ser uma rapsódia: são pequenos trechos extraídos de determinada obra a fim de se discutir um tema. No caso dessa peça teatral, especificamente, são extraídos trechos significativos da obra de Maxim Gorki (pseudônimo de Aleksei M. Peshokov, escritor russo e ativista russo que viveu a dura transição política entre os séculos XIX e XX) a cerca da pequena burguesia.
A peça teatral explora a dura realidade dos trabalhadores e das famílias em seus pequenos núcleos que por vezes se estendem, com seus dramas e conflitos cotidianos. Embora a trama se desenvolva originalmente numa Rússia de inicio do século passado, pode perfeitamente adequar-se a realidade de muitos de nós que vivemos nas periferias das grandes cidades brasileiras. 
O fracasso, o sucesso, a dor, a depressão, a angústia de muitos indivíduos com os quais convivemos (ou somos muitas vezes) e que abalam as estruturas estão presentes como num reflexo. Há diálogos fundamentais que nos chamam a atenção para nosso posicionamento perante a vida em sociedade, nosso comportamento diante dos acontecimentos cotidianos e nosso comportamento politico são expressados de maneira contundente sob vários aspectos.
Não bastasse a presença desses elementos, em A Rapsódia dos Pequenos Burgueses tem a sublime capacidade de nos envolver como expectadores e ao mesmo tempo co-participes desses dramas e faz-nos refletir e pensar, mergulhando de fato no tema e sentindo-se parte integrante, não de uma história (como tantas outras que passam a ser encenadas) mas protagonistas de nossas próprias atitudes de pequenos burgueses, que possuímos sem muitas vezes nos dar conta delas. 
A peça também é bastante inovadora em sua própria exibição, posto que faz do salão nobre da Casa do Povo (teatro localizado no bairro do Bom Retiro em S. Paulo, criado por imigrantes judeus progressistas e de esquerda, no Pós Primeira Guerra Mundial) seu cenário e o utiliza plenamente, numa combinação de múltiplas linguagens artísticas capazes de trazer a cena elementos distintos numa mesma apresentação, onde está presente além da linguagem teatral, a dança, a fotografia e se dá até mesmo a impressão de tratar-se de cinema. As luzes e os efeitos são um show a parte e são fundamentais para tantos efeitos que se misturam e se combinam.
A Cia. Bruta de Arte (idealizadora de toda essa composição que exprime uma arte essencial acima de tudo) se apresenta com maestria. Excelentes atores que emprestam o corpo e o exato tom de voz para cada cena e para cada ato, que é milimetricamente (bem) explicado pela equipe que os acompanha na iluminação e nos slides (cuidadosamente preparados). A direção é de Paulo Maeda e o elenco conta com a estreante no cinema e membro da Cia. desde sempre, Teka Romualdo - Os Amigos (2014) - que está em cartaz nas telonas desde 27 de novembro último.
Enfim, teatro para ver, sentir e pensar, daqueles que proporcionam em alguns momentos uma infinita sensação de contentamento, por se constatar que é possível pensar e repensar a vida, enquanto vivos.

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