terça-feira, 22 de outubro de 2013

Luiz Carlos de Freitas e a eliminação adiada:


Entre os autores de educação na contemporaneidade, um nome recentemente vem se destacando. Trata-se de Luiz Carlos de Freitas, doutor em Educação pela Unicamp que tem feito textos e análises bastante relevantes, matéria obrigatória a ser estudada para os concursos e que servem para a reflexão da prática docente no que se refere à avaliação. Sua abordagem se dá refletindo a cerca dos modos avaliativos presentes nas políticas educacionais (liberais) de FHC e Lula.
Em seu texto "Eliminação adiada: o ocaso das classes populares no interior da escola e da ocultação da (má) qualidade do ensino", o autor analisa as recentes mudanças ocorridas na educação e aponta que a esperança depositada no governo Lula no tocante a mudanças de percurso, no que se refere à educação, na prática convergiram para o mesmo projeto liberal de seu antecessor, FHC. A caminhada rumo a privatização do público e responsabilização por parte dos profissionais é a mesma.
Se o ensino superior as avaliações parecem caminhar no rumo certo, o mesmo não acontece com o ensino fundamental, que tem na Prova Brasil um mundo de incertezas. Neste caso, a avaliação promovida em parceria com estados e municípios tem muito mais interesse em prestar contas a sociedade, que de fato promover a melhoria no ensino.
Freitas afirma que os problemas da educação básica são fruto do projeto liberal hegemônico e ideológico. Se por um lado tais governos promoveram a universalização do ensino, por outro, o fizeram tendo como discurso a meritocracia e o empreendedorismo pessoal, ou seja, a igualdade é de acesso e de oportunidades, não de resultados. Ou seja, o sucesso depende unicamente de a pessoa se esforçar para tê-lo não lhe é garantido pelo Estado, por exemplo. Em sua análise, o autor busca conceitos de Marx (acumulação primitiva) e Bordier (ethos) para explicar que na realidade, eles não se aplicam a no sistema educacional brasileiro da contemporaneidade justamente por serem opostos ao que prega o liberalismo.
Se por um lado, o sistema nunca aceitará de fato sua real posição com relação a ideologia educacional, para não aceitar que de fato há desigualdades e mazelas diversas na sociedade, por outro, é visível e notório que esse projeto é falho. A progressão continuada, por exemplo, diminuiu os índices de repetência e evasão escolar, mas, na prática não tem aumentado o aprendizado dos alunos. Não reprovar não significa um aprendizado melhor.
O ocaso da educação, na analise de Luiz Carlos de Freitas é a saída dos alunos das escolas, seja por progressão continuada, aceleração, eja, etc. Os alunos saem das escolas, mas não preparados para enfrentar a vida. Tem seus estudos concluídos, para serem retidos mais adiante, nas seleções de empregos, nos processos seletivos, etc. As avaliações, são para responsabilizar os profissionais de educação pelo fracasso escolar e não o sistema. 
Freitas compara, assim, os sistemas de avaliação brasileiros aos empregados por políticas estado-unidenses da Era Bush e inglesas, Margareth Thather, por exemplo. A divulgação dos resultados das avaliações, além de responsabilizar as escolas, criou nesses países criou a politica dos “vouchers” - onde o governo paga para os pais colocarem os filhos em escolas melhores - transformando a educação em mercadoria.
Na Inglaterra e nos Estados Unidos, esse processo culminou com a feitura de um mercado capaz de solucionar o fracasso escolar. No Brasil esse processo vem avançando ano a ano, com empresas (ou institutos) que se dizem capazes de solucionar os problemas que geram o baixo aprendizado e assim por diante.
O fato é que de nada adianta se gastar milhões com empresas ou institutos que venham a "qualificar" a Educação, se não houver políticas que sanem as desigualdades sociais. O que gera o fracasso escolar é uma série de fatores somados que geram as desigualdades sociais e impedem o aprendizado efetivo por parte dos alunos. Escolas sem a estrutura adequada, com salas superlotadas, por exemplo. Entregar as escolas a lógica mercadológica não resolverá o problema, se de fato as estruturas continuarem as mesmas e o próprio INEP conhece essa realidade.
A meritocracia mascara o que existe realmente, ou seja, desigualdades sociais que geram dificuldade na implementação dos projetos pedagógicos. Essa linha gera uma serie e consequências positivas que podem ser bem aproveitadas pelo pensamento liberal.
Adiante, Freitas discorre sobre o conceito (por ele elaborado no inicio dos anos 90) de "eliminação adiada" ou seja, se o aluno não reprova na escola e ele não possui as condições avançadas de conhecimento, em algum momento da vida isso ocorrerá. É a exclusão sob uma nova forma. Sendo assim, as avaliações externas tornam-se cada vez mais excludentes, a medida em que medem o global, a média e não o individual. O aluno, continua solitário em meio as suas dificuldades e se estiver em uma turma com bom desempenho passará despercebido, se sua turma não for das melhores, também pouco poderá evoluir. Essas avaliações institucionais tem esvaziado o verdadeiro propósito que é medir conhecimentos e dificuldades dos alunos, para medir o sistema.
Responsabilizar o professor não significa acabar com as dificuldades do ensino. Isso é uma volta a visão da ditadura militar, que impunha uma estrutura verticalizada. Está aí a origem do tecnicismo e de equívocos que se fazem presentes até a atualidade.
Além disso, responsabilizar a escola gera a possibilidade de privatizar para resolver os problemas e cria uma outra estrutura em cima da já existente. Aquela que virá para solucionar o fracasso. Com isso, as pessoas em geral esquecerão as raízes de tudo. É evidente que as escolas falham, mas as politicas públicas também o fazem. 
Enfim, a visão de Luiz Carlos de Freitas está mais próxima a realidade de quem pisa no chão das escolas, do que dos teóricos, o mais importante é que em sua análise estão contidos muitos anos de estudo e grande embasamento teórico e filosófico.

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