quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A escola e o conhecimento na análise de Mário Sérgio Cortella:


Nos últimos anos, a mídia tem dado espaço a um filósofo que comenta, orienta e reflete diversos assuntos da contemporaneidade. Temas diversos são abordados, seja em entrevistas ou em comentários promovidos em jornais televisivos. Essa figura tão importante é Mário Sérgio Cortella, filósofo e escritor paranense que nos faz entender e pensar sobre muitas coisas.
Em seu livro "A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos", ele discorre sobre a crise da educação, crise essa que existe desde que a república foi implantada. Mas, de fato a crise se instalou quando a partir de 1964 (em tempos de ditadura militar), o país se abriu de fato ao capitalismo industrial, deixando de ser rural, tornando-se urbano e tendo as estruturas sociais ainda mais precarizadas. 
Como é de se esperar, saúde e educação foram as áreas que mais sofreram com as mudanças nas configurações da sociedade no pós-64. Tendo a necessidade de capacitar pessoas para trabalharem na indústria (e servirem ao capital), a Educação perdeu sua qualidade, já que muitas pessoas foram inseridas no sistema, tendo ele continuado o mesmo. Resultado: falta de estrutura, baixa qualidade na formação dos professores que passaram a ter seus salários diminuídos e as jornadas aumentadas, tendo consequentemente menos tempo de preparação das aulas. Até esses profissionais foram incorporados ao sistema de qualquer maneira.
Evidentemente, o sistema inchado, decaiu em qualidade. A excessiva quantidade de pessoas numa escola que não estava preparada para ela, não poderia gerar outra coisa senão a má qualidade. Para Cortella, esse dilema tem que ser resolvido pensando na equação quantidade e qualidade, gerando assim a democratização do acesso e da permanência. Um conceito por ele abordado, o apartheid social, ou seja, as escolas públicas de má qualidade geram as escolas privadas de boa qualidade e assim, os alunos oriundos das primeiras, tem seu destino praticamente traçado.
O grande desafio da Educação contemporânea, visto as causas da crise, é elevar a quantidade, mesmo com toda a quantidade que há no sistema. Cortella fala da necessidade de haver uma nova qualidade para uma nova escola, posto que a sociedade nascente (pós-ditadura) passa a exigir Educação como um dos aspectos da cidadania. Com a chegada dos trabalhadores nos bancos escolares, os desafios são outros. A própria Pedagogia pensada na academia torna-se insuficiente, muitas vezes. Outro conceito por ele abordado, o social darwinismo,  refere-se ao grande contingente de adultos analfabetos que simplesmente é ignorado pela Educação oficial ou é atendido de qualquer modo.
O autor ressalta a necessidade de se repensar a relação professor-aluno sob o viés da democratização, que deve ser estendida entre os pares e a própria gestão, gerando assim, a democratização do saber. Essa deve ser a busca e a razão de ser da Educação da classe trabalhadora, para que haja uma sólida base científica, formação crítica de cidadania e solidariedade de classe. Tais polos unidos, devem convergir para que os alunos possam ser donos do próprio conhecimento e livres na construção do saber, com professores que os estimulem e não imponha sobre si as suas vontades e autoritarismo, longe do pragmatismo que entende a educação da classe trabalhadora apenas como o ensino do oficio. Essa escola deve despertar principalmente, a cidadania, levando-os a entender e ter atitudes que visem transformá-la através dos interesses da maioria social.
Para se alcançar tais objetivos, é necessário que a nova qualidade social seja alcançada por uma reorientação curricular que leve em consideração a realidade dos alunos, levando-se em conta a riqueza e a diversidade cultural, mas dando-lhe uma orientação formal e científica. É preciso uma análise que vise observar aspectos políticos e epistemológicos do interior das escolas, para que os educadores não percam de vista o sentido concreto dessa sua ação.
Enfim, Mário Sérgio Cortella propõe repensar a Educação sob o viés da crise pelo qual ela passa, apontando caminhos que passam pela realidade cotidiana e não apenas pelas teorias que se esvaziam a medida que os teóricos se distanciam do chão onde a classe trabalhadora pisa.

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